Vida bandida
Brasil, Paraná - Curitiba
Fotos de Zé Paulo
Junho/10
Junho/10
Permanência
Não peçam aos poetas um caminho. O poeta
não sabe nada de geografia
celestial. Anda
aos encontrões da realidade
sem acertar o tempo com o espaço.
Os relógios e as fronteiras não têm
tradução na sua língua. Falta-lhes
o amor da convenção em que nas outras
as palavras fingem de certezas.
O poeta lê apenas os sinais
da terra. Seus passos cobrem
apenas distâncias de amor e
de presença. Sabe
apenas inúteis palavras de consôlo
e mágoa pelo inútil. Conhece
apenas do tempo o já perdido; do amor
a câmara-escura sem revelações; do espaço
o silêncio de um vôo pairando
em tôda a parte.
Cego entre veredas obscuras é ninguém e
nada sabe
- morto redivivo.
Adolfo Casais Monteiro
(Porto, Portugal, 4 de Julho de 1908 - São Paulo, Brasil, 23 de Julho de 1972)
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