Idosa SÓ com as pombas...
Brasil, Paraná, Curitiba Foto de Zé Paulo Outubro/2012 |
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Cecília Meireles, in 'Poemas (1957) - (Rio de Janeiro, 1901–1964)
2 comentários:
Bela poesia que eu não conhecia. O Facebook veio acabar com a indiferença. O mundo está interligado. Tudo vai melhorar.
Que Deus, e os homens, o ouçam!
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