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terça-feira, 26 de junho de 2012

Gentes do Brasil - Pescador



Pescador
Brasil, Paraná, Matinhos
Foto de Zé Paulo
Junho/12

Pescador

Pescador, onde vais pescar esta noitada: 
Nas Pedras Brancas ou na ponte da praia do Barão? 
Está tão perto que eu não te vejo pescador, apenas 
Ouço a água ponteando no peito da tua canoa... 

Vai em silêncio, pescador, para não chamar as almas 
Se ouvires o grito da procelária, volta, pescador! 
Se ouvires o sino do farol das Feiticeiras, volta, pescador! 
Se ouvires o choro da suicida da usina, volta, pescador! 

Traz uma tainha gorda para Maria Mulata 
Vai com Deus! daqui a instante a sardinha sobe 
Mas toma cuidado com o cação e com o boto nadador 
E com o polvo que te enrola feito a palavra, pescador! 

Vinícius de Moraes 
(Rio de Janeiro19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro9 de julho de 1980)


Dois patinhos

Dois patinhos
Brasil, Paraná, Curitiba
(Ópera de Arame)
Foto de Zé Paulo
Junho/12


Dois patinhos na lagoa
Começaram a nadar, a nadar
Quando viram uma minhoca
Começaram a puxar
Puxa pra cá, puxa pra lá
Cuidado pra minhoca não arrebentar
Puxa pra cá, puxa pra lá
Cuidado pra minhoca não arrebentar
Arrebentou!!!!!


Banco

Banco
Brasil, Paraná, Matinhos, Prainha
Foto de Zé Paulo
Junho/12

Deus Triste

Deus é triste.

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

Carlos Drumond de Andrade
(Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)



Fim de tarde nublada



Fim de tarde nublada
(Parque Tanguá)
Brasil, Curitiba, Paraná
Foto de Zé Paulo
Abril/12


Movimento

Se tu és a égua de âmbar 
                  eu sou o caminho de sangue 
Se tu és o primeiro nevão 
                  eu sou quem acende a fogueira da madrugada 
Se tu és a torre da noite 
                  eu sou o cravo ardendo em tua fronte 
Se tu és a maré matutina 
                  eu sou o grito do primeiro pássaro 
Se tu és a cesta de laranjas 
                  eu sou o punhal de sol 
Se tu és o altar de pedra 
                  eu sou a mão sacrílega 
Se tu és a terra deitada 
                  eu sou a cana verde 
Se tu és o salto do vento 
                  eu sou o fogo oculto 
Se tu és a boca da água 
                  eu sou a boca do musgo 
Se tu és o bosque das nuvens 
                  eu sou o machado que as corta 
Se tu és a cidade profunda 
                  eu sou a chuva da consagração 
Se tu és a montanha amarela 
                  eu sou os braços vermelhos do líquen 
Se tu és o sol que se levanta 
                  eu sou o caminho de sangue 

Octavio Paz, in "Salamandra" 
(Cidade do México, 31 de Março de 1914 — Cidade do México, 19 de Abril de 1998)

Circunferências

Cúpula da Ópera do Arame
Brasil, Paraná, Curitiba
Foto de Zé Paulo
Abril/12

"A poesia expande a circunferência da imaginação ao enchê-la com o pensamento de constantes e novos prazeres"

Percy Bysshe Shelley (1792-1822), poeta e escritor inglês, em Uma Defesa da Poesia e Outros Ensaios.