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domingo, 14 de outubro de 2012

Idosa SÓ com as pombas...

Idosa SÓ com as pombas...
Brasil, Paraná, Curitiba
Foto de Zé Paulo
Outubro/2012

Como se Morre de Velhice

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

Cecília Meireles, in 'Poemas (1957) - (Rio de Janeiro, 1901–1964)

Encontro

Encontro
Brasil, Paraná, Curitiba
Foto de Zé Paulo
Outubro/12

O Velho do Espelho
Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus, Meu Deus...Parece
Meu velho pai - que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"O que fizeste de mim?!"
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...Que importa? Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!-
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...

Mario Quintana  (Alegrete, 30 de julho de 1906 — Porto Alegre, 5 de maio de 1994)



terça-feira, 26 de junho de 2012

Gentes do Brasil - Pescador



Pescador
Brasil, Paraná, Matinhos
Foto de Zé Paulo
Junho/12

Pescador

Pescador, onde vais pescar esta noitada: 
Nas Pedras Brancas ou na ponte da praia do Barão? 
Está tão perto que eu não te vejo pescador, apenas 
Ouço a água ponteando no peito da tua canoa... 

Vai em silêncio, pescador, para não chamar as almas 
Se ouvires o grito da procelária, volta, pescador! 
Se ouvires o sino do farol das Feiticeiras, volta, pescador! 
Se ouvires o choro da suicida da usina, volta, pescador! 

Traz uma tainha gorda para Maria Mulata 
Vai com Deus! daqui a instante a sardinha sobe 
Mas toma cuidado com o cação e com o boto nadador 
E com o polvo que te enrola feito a palavra, pescador! 

Vinícius de Moraes 
(Rio de Janeiro19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro9 de julho de 1980)


Dois patinhos

Dois patinhos
Brasil, Paraná, Curitiba
(Ópera de Arame)
Foto de Zé Paulo
Junho/12


Dois patinhos na lagoa
Começaram a nadar, a nadar
Quando viram uma minhoca
Começaram a puxar
Puxa pra cá, puxa pra lá
Cuidado pra minhoca não arrebentar
Puxa pra cá, puxa pra lá
Cuidado pra minhoca não arrebentar
Arrebentou!!!!!


Banco

Banco
Brasil, Paraná, Matinhos, Prainha
Foto de Zé Paulo
Junho/12

Deus Triste

Deus é triste.

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

Carlos Drumond de Andrade
(Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)



Fim de tarde nublada



Fim de tarde nublada
(Parque Tanguá)
Brasil, Curitiba, Paraná
Foto de Zé Paulo
Abril/12


Movimento

Se tu és a égua de âmbar 
                  eu sou o caminho de sangue 
Se tu és o primeiro nevão 
                  eu sou quem acende a fogueira da madrugada 
Se tu és a torre da noite 
                  eu sou o cravo ardendo em tua fronte 
Se tu és a maré matutina 
                  eu sou o grito do primeiro pássaro 
Se tu és a cesta de laranjas 
                  eu sou o punhal de sol 
Se tu és o altar de pedra 
                  eu sou a mão sacrílega 
Se tu és a terra deitada 
                  eu sou a cana verde 
Se tu és o salto do vento 
                  eu sou o fogo oculto 
Se tu és a boca da água 
                  eu sou a boca do musgo 
Se tu és o bosque das nuvens 
                  eu sou o machado que as corta 
Se tu és a cidade profunda 
                  eu sou a chuva da consagração 
Se tu és a montanha amarela 
                  eu sou os braços vermelhos do líquen 
Se tu és o sol que se levanta 
                  eu sou o caminho de sangue 

Octavio Paz, in "Salamandra" 
(Cidade do México, 31 de Março de 1914 — Cidade do México, 19 de Abril de 1998)

Circunferências

Cúpula da Ópera do Arame
Brasil, Paraná, Curitiba
Foto de Zé Paulo
Abril/12

"A poesia expande a circunferência da imaginação ao enchê-la com o pensamento de constantes e novos prazeres"

Percy Bysshe Shelley (1792-1822), poeta e escritor inglês, em Uma Defesa da Poesia e Outros Ensaios.


domingo, 15 de abril de 2012

Ópera

Ópera de Arame
Brasil, Paraná, Curitiba
Abril / 12

segunda-feira, 26 de março de 2012

De dentro para fora

Forte da Ilha do Mel
Brasil, Paraná, Paranaguá, Ilha do Mel
Foto de Zé Paulo 
Março/2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

A família vizinha


 Família de corujas (filhos e mãe)
Brasil, Paraná, Curitiba
Fotos de Zé Paulo
Março/12

A Corujinha


Corujinha, coru....jinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei que
O teu canto de repente
Faz a gente estremecer

Corujinha, pobre...zinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah! coita...dinha
Que feinha que é você

Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder
Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa como quê

Toda noite tua carinha
Apa...rece na TV
Corujinha, coru...jinha
Que feinha que é você!

           Letra e música de Vinícius de Moraes e Toquinho

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pegadas - III


Pegadas de anta
Brasil, Mato grosso, Campos de Júlio
Fotos de Zé Paulo
Fevereiro/12

Pegadas - II


Pegadas de Cervos
Brasil, Mato Grosso, Campos de Júlio
Fotos de Zé Paulo
Fevereiro/12

Pegadas - I


Pegadas de lobos, adulto e filhote
Brasil, Mato Grosso, Campos de Júlio
Fotos de Zé Paulo
Fevereiro/12

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A coruja


A coruja
Brasil, Mato Grosso, Campos de Júlio
Foto de Zé Paulo
Fevereiro/12


Coruja, ó Coruja, ouça minha súplica,
E não destrua meu ninho, coruja.
Você já me arrebatou meus filhotes,
Embora eu dêles cuidasse
Com todo amor e carinho.
Tenha pena de mim, tenha pena de mim!
Ouça minha prece.
Antes que as nuvens obscureçam os céus,
Protejo as raízes da amoreira.
Ao redor da porta e da janela,
Eu me agarro firmemente a elas,
E, lançando os olhos para baixo,
- Quem ousa, dentre vocês, desprezar minha casa?
Puxei com minhas unhas e despedacei-as
E minha bôca e meus dedos ficaram feridos.
Reuni tôda minha força
Para defender-me,
Pois estou decidido a manter a casa perfeita,
E não receio nenhum trabalho com essa intenção.
Minhas asas estão deploravelmente feridas
E minha cauda muito maltratada e fatigada.
Sacudida pelo vento
Enquanto a chuva bate sem piedade,
Oh! minha casa está em perigo
E escrevo esta nota num grito de alarme.

Escrito em 1113 A. C., na China, pelo Duque de Chou.




sábado, 18 de fevereiro de 2012

Ema


Emas
Brasil, Mato Grosso, Campos de Júlio
Fotos de Zé Paulo
Fevereiro/12

O Canto da Ema

A ema gemeu no tronco do juremar
A ema gemeu no tronco do juremar
Foi um sinal bem triste, morena
Fiquei a imaginar
Será que é o nosso amor, morena
Que vai se acabar? (2X)

Você bem sabe, que a ema quando canta
Traz no meio do seu canto um bocado de azar
Eu tenho medo
Pois acho que é muito cedo
Muito cedo meu benzinho
Pra essa amor acabar

Vem morena, vem, vem, vem
Me beijar, me beijar
Dá um beijo, dá um beijo
Pra esse medo
Se acabar

Composição de João do Valle, Aires Viana e Alventino Cavalcanti

Arco-Íris

Arco-Íris
Brasil, Mato Grosso, Campos de Júlio
Foto de Zé Paulo
Fevereiro/2012



O arco-íris
que brota do chão
sete cores o enfeitam
parece pintado à mão.

O arco-íris
será um dia
um grande escorregador
de alegria.

O arco-íris
não há mais nada a dizer
além de um sonho
o que mais pode ser.

Clarice Pacheco (1989 - 2002)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Na areia da praia


Na areia da praia
Brasil, Paraná, Balneário de Ipanema
Fotos de Zé Paulo



Aqui na orla da praia,....

Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;
O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega; não tem verdades a fé.

Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.

Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,
Tocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu.

Fernando Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935),



Coruja

Coruja
Brasil, Paraná, Balneário de Ipanema
Foto de Zé Paulo



a coruja
são todo ouvidos
os teus olhos
de vigília.
olhos acesos,
luzeiros
de sabedoria.
olhos atentos
à geografia
do dentro
és uma concha.
um encorujado
caramujo.
monja em voto de silêncio.

Sérgio de Castro Pinto - João Pessoa, 1947



Lagarta

Lagarta
Brasil, Paraná, Caiobá
Outubro 2011
Foto de Zé Paulo



A lagarta
Por sobre as ramas da árvore coleia
A lagarta. E a colear, viscosa e lenta,
O seu aspecto as vistas afugenta
E de tocá-la a gente se arreceia.

Verde-negra, amarela, azul, cinzenta,
Quando o sol as folhagens incendeia,
Sobe a aquecer-se, e à luz solar, aumenta
O asco de vê-la repulsiva e feia.

Mais eis que a encerra do casulo a tumba;
Não penseis que, de todo, ela sucumba
No seu sepulcro eternamente presa.
Qual, do corpo, alma livre, desprendida,
É borboleta: evola-se a outra vida,
Voando feliz, na glória da beleza.


Bastos Tigre - Recife, 12 de março de 1882 — Rio de Janeiro, 1 de agosto de 1957

Ninho

Ninho
Brasil, Paraná, Curitiba
Janeiro 2012
Foto de Zé Paulo




Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...



Miguel Torga - São Martinho de Anta, 12 de Agosto de 1907 — Coimbra, 17 de Janeiro de 1995

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Rio Nhundiaquara

Brasil, Paraná, Morretes
Foto de Zé Paulo
Novembro 2011


Tela Morretense

Morretes dos dias de canícula,
De ardente sol abrasador.
Sol pendurado na celeste gambiarra,
Ativa os teus atores
No prado e na Serra,
Ao som do canto estridente
Da fútil cigarra.

Mas, à tardinha,
O ventro soprando
Da banda do mar,
Transforma o mormaço
Em brisa marinha,
Pondo o sabiá altaneiro a cantar.

E o Nhundiaquara morno e sereno
A passar entre seixos, lírios, jasmins.
Outras vezes encolhendo-se todo
Em poços profundos.
Sôfrego, guarda os brancos lírios,
No seu escuro e misterioso âmago.

E quando a natureza em fúria,
De nuvens o Marumbi envolve,
Em catadupa a água corre,
Em furor o seu leito cobre,
Levando os teus belos lírios
Desfalecido pelo terror.

Cada vez mais para longe...
Longe...
Para o mar!

(Lúcio Borges)

Negro Gato

Brasil, Paraná, Caiobá. 
Foto de Zé Paulo



Negro Gato

Sou um negro gato de arrepiar
Essa minha história é mesmo de amargar
Só mesmo de um telhado, aos outros desacato
Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Minha triste história, vou lhes contar
E depois de ouvi-la, sei que vão chorar
Há tempos que eu não sei o que é um bom prato
Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Sete vidas tenho, para viver
Sete chances tenho, para vencer
Mas se não comer, acabo no buraco
Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Um dia lá no morro, pobre de mim
Queriam a minha pele, para tamborim
Apavorado desapareci no mato
Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Sete vidas tenho para viver
Sete chances tenho para vencer
Mas se não comer, acabo no buraco
Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Um dia lá no morro, pobre de mim
Queriam a minha pele, para tamborim
Apavorado desapareci no mato
Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

Eu sou um negro gato
Eu sou um negro gato

(Letra da música "Negro Gato" do Roberto Carlos e Erasmo Carlos)