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domingo, 14 de outubro de 2012

Idosa SÓ com as pombas...

Idosa SÓ com as pombas...
Brasil, Paraná, Curitiba
Foto de Zé Paulo
Outubro/2012

Como se Morre de Velhice

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

Cecília Meireles, in 'Poemas (1957) - (Rio de Janeiro, 1901–1964)

2 comentários:

lblemos@globomail.com disse...

Bela poesia que eu não conhecia. O Facebook veio acabar com a indiferença. O mundo está interligado. Tudo vai melhorar.

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Que Deus, e os homens, o ouçam!